O cinema é literal, o porão abstrato.
E vice-versa.
Porque começou, afinal, em um porão. Em Paris, 28 de dezembro de 1895, o público experimentou pela primeira vez olhar para uma tela e ver uma projeção. Ali, em frente a uma imagem trêmula, preto, branca e muda. Imergiram na ficção e saíram da frente do trem que estava vindo.
122 anos se passaram, e onde estamos? Encaixotamos nossas fitas de videocassete e as jogamos em qualquer espaço ocioso nas nossas casas, vimos as locadoras fecharem e venderem cada um dos filmes por cinco reais. Os cinemas de calçada se transformaram em garagens e igrejas, só restaram as fachadas - quando tombadas como patrimônio.
E os filmes?
Continuam, ganham significado cada vez que são vistos e revistos. São criadas novas histórias, ondas, técnicas, estéticas, movimentos, ilusões, adaptações, tecnologias, aparatos, dispositivos, plataformas, propostas, e o cinema, de alguma maneira, sobrevive.
O Cinema de Porão teve seus primeiros suspiros em 2012, mas se concretiza mais do que nunca em 2018. Surgiu da necessidade de escrever a respeito desta movimentação, da vontade de fazer análises, críticas, crônicas, e listas.
Da falta de interesse em abordar apenas o que está estreando, e sim lembrar de obras de qualquer época para discutir assuntos que estiverem em pauta. Surge da vontade de divulgar a cena independente de Porto Alegre e quaisquer lugares onde estiver de passagem e/ou sentir o impulso de falar a respeito.
Mais do que qualquer coisa, o Porão é uma alegoria para a subjetividade, um olhar para o interior, uma busca incessável por conhecer as profundezas.

Vida longa e próspera, para o Porão e para o Cinema.